O teu passado te condena?

E então, o teu passado pode condenar o teu presente e comprometer o teu futuro? Tomara que não. Pois ninguém merece viver assim, como se estivesse preso entre dois mundos, divido entre duas dimensões, tentando reviver o passado e deixando escapar o presente, sem contar o futuro, que deixa de exisitir por completo.
Por que escrevo sobre o passado? Porque estou fazendo as pases com o meu. Não tenho nada que me condene ou me faça sofrer com arrependimentos torturantes, mas agora consigo recordar minha vida sem trazer à tona fortes sentimentos.
Tudo que vivi me ajudou muito a ser o que sou, sinto e acredito, mas não tenho como viver e sentir o que experimentei há muitos anos. Está claro para mim que o passado representa a minha trajetória vivenciada em décadas, onde cometi acertos e erros, mas sinto-me mais seduzido em viver BEM o presente que tenho nas mãos. Esse presente, que tenho aprendido a viver intensamente, traz-me uma certeza que quando ele se transformar em passado, não deixará cicatrizes. Certamente não irei me lembrar dos detalhes, mas terei agregado à minha vida apenas o aprendizado decorrente dele.
Krishnamurti dizia: "Recordar é viver o passado e prender-se a ele". Prender-se ao nosso passado faz com que nos perpetuemos em nossos erros ou nos vangloriemos dos êxitos já passados. Essa atitude impede-nos de ver as possibilidades que o presente nos oferece para realizar as mudanças que nos ajudarão em nosso desenvolvimento pessoal.
Todos nós um dia dia já ouvimos ou até mesmo já pronunciamos estas frases: "Eu sempre fui assim", "educaram-me dessa maneira", "isso me deu resultado", esses são apenas alguns exemplos das desculpas que encontramos para absolver-nos e assentar-nos no que já passou.
Quando trabalhamos o passado com desapego e objetividade, este nos ensina a corrigir erros e melhorar nossos acertos. Temos que deixar para trás tudo, todas as experiências boas ou negativas para poder continuar aprendendo e amadurecer. É mais do que necessário desprender-se de toda lembrança que traga consigo emoções perturbadoras que não façam mais sentido com o presente e com o que você é.
De que vale sofrer por um fato ocorrido há 25 anos atrás? Particularmente, isso causa um desgaste emocional e energético sem sentido, pois por mais que você sinta uma "baita" vontade de reviver aquele sofrimento, perceberá depois das lágrimas que essa dor "não te pertence mais". Não se pode viver qualquer situação várias vezes e sentí-la com a mesma intensidade. Esse é um toque legal para comprovar que só se pode viver um acontecimento doloroso ou feliz uma única vez, e uma vez vivido, deve permanecer lá no passado.
Quando conseguimos nos livrar do hábito de apegar-se ao passado, passamos a contemplar nossa história particular como um bem que pertence a toda humanidade. Essa atitude nos liberta e nos habilita a compreender e superar hábitos de pensar, de sentir e de agir que nos limitam; ao mesmo tempo, criamos novas formas de pensar e de sentir mais adequadas ao nosso atual momento que nos dê a chance de amadurecer.
"Se você consegue se desapegar do passado, toda experiência nova será sempre a primeira", disse-nos um grande amigo durante nosso encontro semanal.
Esse belo insight nos fez tremer por dentro, pois traz consigo uma força gigantesca, repleta de esperanças de que a felicidade que todos buscamos, precisa ser construída bem devagar e isso não depende de ninguém além de nós mesmos. Quando validamos nossa experiências presentes, abre-se bem diante de nossos olhos, um futuro pleno de promessas que se cumprirão naturalmente, assim como flores delicadas que desabrocham.
Uma vez que conseguimos perceber e vivenciar todo esse processo de amadurecimento contínuo, viver passa a ser um exercício pleno de possibilidades e de contato cada vez mais íntimo com a força que nos criou. Passado, presente e futuro passam a ser um só, mas temos que experimentá-los um de cada vez.
E então, o teu passado já pode enriquecer o teu presente e expandir o teu futuro?

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