Em meio ao pálido sol de outono

Os dias ganharam um contorno preguiçoso. Depois de uma semana de muito trabalho, relaxo e desacelero. Não há mais prazos para serem cumpridos, pelo menos por esses dias. E uma greve necessária, deixa os meus dias ainda mais longos. Dias longos nos levam a esticar resoluções e postergar pequenos compromissos, pois não há qualquer motivo para ter pressa.
Quando tenho mais tempo disponível, como é o caso agora, gosto de estar o mais próximo que posso das pessoas que amo. Minha filha sempre acaba sendo a minha primeira escolha. Ela não é a única pessoa que amo na vida, mas a que mais precisa de mim.
Próximo de completar 5 anos, vejo com espanto o seu crescimento e sinto que não posso deixar de estar junto do ser humano que me completou, e sem dúvida resgatou de dentro de mim o que tenho de melhor. Minha filha é a peça de meu quebra-cabeça que faltava. A solução de meu enigma pessoal. É o sopro de vida que inundou minha alma e meu coração. Declarar o quanto a amo aqui é pouco, muito pouco perto do que sinto e que não pode ser transcodificado em simples palavras.
Hoje mesmo, em meio ao pálido sol de outono, disse para uma mãe que tenho um milagre para cuidar por toda minha vida. No mesmo momento, ela olhou para seu filho deformado por uma paralisia cerebral e me disse com os olhos úmidos que também tinha um milagre. Na mesma hora, uma avô, mãe de muitos filhos, olhava com profundo carinho os dois netos adotivos, incrivelmente felizes a rolar na grama.
Passei o dia com minha filha. Não foi nada planejado, foi acontecendo aos poucos. Almoçamos na casa de minha mãe. Passeamos de mãos dadas ao sol, encontramos as crianças que já falei e depois voltamos para casa da vovó. Logo senti o sono de minha filha chegar e ela acabou dormindo em meus braços enquanto eu assistia um filme.
Cuidando de seu sono, confirmei com meus olhos o que está sendo difícil para mim de uns dias para cá: ela está crescendo e se tornando delicadamente independente. A inocência que as crianças guardam em seu coração deveriam permanecer por toda vida dentro de nós.
Estou aqui teclando e ao meu lado está minha filha fazendo muitos desenhos, como flores dançantes, sol de rocambole, gatinhos, coelhinhos e muitos ovos de Páscoa. Ela está aqui espremida e já disse que está aqui para ficar comigo, junto a mim. Como eu poderia não curtir esse maravilhoso momento de cumplicidade? Será que quando a adolescência chegar ela ficará aqui como agora? Espero que sim, mas se não estiver, eu sempre a estarei esperando para partilhar seja lá o que for.
Tenho estado com as emoções bem mais afloradas nesses dias. Minhas meditações diárias tem sido fortes e me comovem até as lágrimas. As respostas que tenho recebido de Deus diante da vida são de uma simplicidade constrangedora. Viver é muito mais simples do que podemos imaginar. Quando avaliamos nossa vida ou o momento atual como faço agora, retiro as emoções, e vejo tudo com mais objetividade e clareza. Reconheço-me em minha essência e sinto o que tenho que fazer para viver bem e melhor.
Nunca precisei de grandes transformações em minha vida e admito que prefiro que ela continue assim. Se bem que vivo com tanta intensidade o presente que mal dá tempo para ser surpreendido pelo futuro. Deus é que sempre me surpreende com sua imensa misericórdia, compaixão e força, inundando meus dias com sua presença.
Não sei até quando vou continuar sentindo essa forte energia emocional. Mas como tudo está muito bem estrutura em minha cabeça (quase tudo), aproveito mais um momento especial em minha vida, na certeza que ele não se repetirá e certamente não será o último.

Comentários

Anônimo disse…
E nem me oferece um pouco de chocolate neste pálido sol de outono...

Abraços,

Adérito

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