Como é bom dar gargalhadas!

Há poucas semanas venho desmistificando antigos paradigmas. A sensação que tenho experimentado tem me trazido uma felicidade única, uma alegria que não sentia há anos, que me faz gargalhar até quando estou só. São descobertas que trazem um ponto final em angústias e meias verdades, que foram usadas unicamente para me conterem e reprimirem desde a minha infância.
A nova interpretação que estou construindo para o meu presente e futuro é clara e libertadora. 
Lembro-me de minha 1a. comunhão com angústia e raiva. Fui levado a acreditar que ao receber o corpo de Jesus na hóstia, estaria liberto e perdoado pelos meus pecados, no auge dos meus 11 anos.
Sabia todas as orações, lia a Bíblia com frequência e fazia as atividades religiosas com prazer. Meu caderno de catecismo era o mais caprichado da turma. Recebi muitos santinhos por minha bonita caligrafia e acreditava de verdade em tudo que ouvia da D. Auda, uma irmã catequista.
Era importante se redimir das falhas e muito cedo compreendi que precisava do perdão. O perdão era fundamental diante do pecado. Éramos todos pecadores em potencial e qualquer deslize, a fama de pecador tornava-se visível, tornando-nos impuros diante do mundo. Portanto, tínhamos que pedir sempre o perdão a cada vez que confessávamos envergonhados diante de um padre, sempre impaciente diante de nossas faltas. Muito cedo descobri o poder paralisante da culpa. Ajoelhar-se era a humilhação máxima do pecador e quanto maior a dor nos joelhos, melhor.
Foi essa mesma culpa que me paralisou de medo no dia da minha 1a. comunhão na gigantesca Catedral de Petrópolis, diante de meus familiares, invisíveis para mim diante da multidão que ocupava toda igreja. Procurava meus pais e não os encontrava. Sentia-me estranhamente solitário na "casa de Deus".
Depois de cumprir todo o cerimonial, exaustivamente treinado pela Irmã, recebi a hóstia sagrada, segurando um pratinho de prata como apoio. Lembro-me do reluzente sapato preto engraxado por meu pai e a camisa de manga comprida e quente, engomada com perfeição por exigência da cerimônia religiosa.
Do momento que recebi a oferenda das mãos do padre, o pior aconteceu. Apesar das muitas orações para me redimir diante dos pecados cometidos, ainda me encontrava impuro. A hóstia sagrada me denunciou e colou no céu da boca. O que se seguiu foi uma enorme angústia e medo, muito medo. Não conseguia abrir a boca, acreditando que a hóstia se transformaria em "carne e sangue de Cristo" com me avisaram. Chorei de medo e culpa em silêncio, apenas as lágrimas denunciavam a dor que sentia, e que foram interpretadas por muitos como felicidade.
Depois de alguns minutos, a hóstia se dissolveu, assim como o restante da cerimônia para mim. Não tive coragem de dizer aos meus pais o que havia acontecido e não disse até hoje. Terminei o dia entristecido e molhei o travesseiro com lágrimas, antes de adormecer.
Agora não importa mais. Entretanto, comunguei pouquíssimas vezes depois, até decidir nunca mais fazê-lo. Esse foi o primeiro passo para romper com a Igreja Católica e seus dogmas. Mas posso garantir-lhes, que o Deus que eu creio e a fé que guardo em meu coração, como uma centelha divina, crescem a cada dia.
Esta semana sepultei de vez, qualquer vestígio de culpa ou pecado que ainda existiam dentro de mim. Não temo mais a Deus, ele está do meu lado, e o que é melhor, temo cada vez menos a minha consciência à medida que a expando.
É bom saber que não pertenço a esse mundo. Acredito de verdade que estamos aqui de passagem. Que nada possuímos e nada pode nos possuir. Que a FÉ é o único refúgio que tenho para estar junto a Deus, meu criador, que ao ter me tocado com sua centelha de vida, me permite estar aqui e agora, vivo, muito vivo!

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