Resgatando o que me salvou desde sempre!

Sinto cada vez menos falta das pessoas que por anos convivi. Percebo que é preferível sustentar uma amizade superficial por duas razões: não é construtivo semear ressentimentos nessa altura da vida e porque reconheço que houve uma quebra de confiança. Sei que posso cometer os mesmos erros que me fizeram afastar de muitas almas, mas sem vaidade confesso: a chance vai ser pequena.
Depois de vivenciar anos muito difíceis, estou retomando o hábito de escrever. Ele é libertador. Tenho chorado muito, sinto uma angústia tomando o meu coração e por vezes, sinto-me muito só. Minha alma tem estado de luto por muitas razões. Não tenho como continuar vivo se não for capaz de acreditar na vida, mas tenho ouvido palavras tão duras e sentido corações tão frios, que chego a acreditar que sou um sobrevivente corajoso em um mundo pronto para acabar conosco.
Tenho evitado de lembrar o passado e me esforçado muito em viver o presente. Penso nas lembranças que deixarei para minha filha que tanto amo. Tenho amado tanto a Lara que chega a doer na alma. Já sinto que minha filha começa a se desprender emocionalmente de mim, pois já se encaminha para a adolescência. Sinto saudades de estar com ela mais tempo, se bem que fui um pai muito presente em sua vida. Queria que ela compreendesse no futuro que se estou vivo é por ela. Minha vida não faria sentido se ela não existisse. Não quero ser um peso para ela quando falo isso. Ela não me deve nada, de coração. Espero ser lembrado pelos meus netos como um avô-professor amoroso que conseguiu cumprir a sua missão.
Mas não estou aqui para pensar no futuro e muito menos para me despedir. Há muito o que fazer e viver ainda. Preciso focar em minha vida a partir de agora. Cuidar do meu corpo, da minha saúde. Preciso me cercar do que me faz bem. Nunca fui um bom administrador de conflitos. Mergulhava na guerra com o firme propósito de conseguir a paz o mais rápido que pudesse. Não sei se agora sinto-me menos disposto a lutar ou se as lutas que travei e venci se perderam no passado, ou ainda, se deixaram de dar o sentido para minha existência.
Tenho tomado consciência cada dia mais que sou mais um passageiro por aqui. Que não tenho nada. Tudo que disponho me foi emprestado por Deus para viver e nunca irá me pertencer. O que me pertence e ninguém pode me tirar é o meu aprendizado como ser humano, no que venho me transformando. São valores que se aprofundam, novos que surgem com o tempo e outros que se dissolvem completamente. Como é bom reconhecer-se como um homem flexível em seus pontos de vista, que está disposto a aprender com tudo que se apresente em minha frente!
Mas se agora é fácil, nem sempre foi assim. Até que me desse conta desse estado de consciência diferente, me sentia excluído do mundo, como se eu não me ajustasse ao mundo dos normais. 
Ainda luto para superar o quanto fui depreciado na infância. Meus pais me salvaram. Eu precisava tanto ser aceito, reconhecido pelos meus primos e tios. Fui comparado o tempo todo com aqueles que eram melhores do que eu, pelo menos era o que pensavam. Era difícil perceber que a inveja permeava as minhas relações familiares, afinal de contas quando a minha família parecia ruir, eu fui capaz de sustentá-la com uma força que até hoje não sei de onde veio. E fiz sem ajuda deles, me agarrando na luz daqueles dias que eu ainda teria pela frente, pelos abraços apertados, beijos e afagos. Era a força da vida me acolhendo em seus braços.
Hoje sei que foi DEUS que me sustentou e me fortaleceu diante de tanta adversidade. A vida por mais dura que tenha sido comigo, longe de me endurecer me encheu de esperanças que por vezes me sinto sufocado! Certezas me envolvem perigosamente e quando as coloco em dúvida, vem uma fé enorme e me fortalece.
Tenho me colocado aos pés do meu Criador toda vez que preciso tomar decisões. E ele me ampara e me coloca no caminho certo!
Tenho 54 anos e permaneço vivo. Ainda que por vezes chore, continuo acreditando naqueles belos dias de sol que amo desde a minha infância. Ainda creio que serei capaz de superar minhas fraquezas e barreiras. Ainda que a vida ao redor fique triste e sufocante, eu persisto até quando me for permitido.

Comentários

Patrícia disse…
Que relato lindo Hansen! Sua sensibilidade é tocante. Dá pra sentir verdade em cada palavra. Saudades de voce e de sua sabedoria!

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