Devastado pela saudade


 É exatamente como me sinto hoje. Perdi a pessoa que mais me amou na vida e que mais amei. Minha mãe nos deixou e foi rápido, de forma que eu não pudesse ter tempo de perceber que a perdia para sempre. Mamãe precisou ser derrubada pela morte para continuar a sua missão em um lugar longe de nós. Mamãe partiu sem dor. Seu frágil coração não aguentou tamanho desafio. Suas últimas palavras foram "eu não aguento mais." Minha guerreira desistia de lutar e apenas segurava a minha mão antes de partir. Eu segurava aquela mão pequena como se ela fosse a última ligação entre nós. Era um fio de esperança em que eu me apoiava, pois agora pressentia que a sua hora estava chegando. E a hora chegou suave. Os batimentos cardíacos caíram até zero e apesar das tentativas para que ela ressuscitasse, mamãe se foi serena e silenciosamente. E neste momento eu me tornava órfão, realidade que a acompanhou desde os dois anos de idade quando minha avó partiu tão jovem, deixando além da minha mãe, mais cinco filhos menores. Chorei como nunca chorei antes, sem saber que continuaria chorar até hoje, seis meses após a sua partida. Chorei de soluçar abraçado e de mãos dadas com a mãe que sempre amarei. Pedi a Deus que a conduzisse com carinho até a  seu encontro, pois eu não podia fazer mais nada por ela. Fiz o que pude em vida quando sintonizei a tristeza da solidão que ela trazia nos olhos por não ter conhecido a mãe. Enquanto vivemos juntos, nunca faltamos um para o outro. Minha guerreira de tantas batalhas, conquistas e derrotas. Seguíamos sempre de pé, mesmo quando a vida tentou nos jogar no chão. Foi com ela que aprendi a persistência, a disciplina e ambição de ser melhor todos os dias. Ela me deixou de herança um coração bondoso, mas não como o dela, mas sensível a dor do semelhante. Foi uma vida intensa de aprendizados, intercalada de muitas gargalhadas e brincadeiras entre nós. Mergulhado em lembranças aqui estou, de luto, sem prazo de validade para acabar e devastado por uma saudade que não me dá paz. O meu consolo maior é imaginar ela abraçada com a minha avó, resgatando uma vida que deixou de ser vivida.


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