Além da metade do caminho.

Agora que já estou além da metade do caminho tenho pensado no significado da "luta de pela vida". Já vivenciei conquistas e derrotas, mas nunca perdi o foco de meus objetivos. Podem apontar meus defeitos, que foram um dia uma armadura difícil de penetrar, mas hoje tudo vem mudando com muita velocidade, inclusive o duelo que travava com a vida. Posso ver que me envolvi em grandes confrontos, que gastei uma energia excessiva e desnecessária, e que hoje faria tudo com mais racionalidade. Sou capaz até mesmo de listar minhas fraquezas com uma coragem surpreendente.
Lembro-me do prazer dado pelo meu trabalho, quando o iniciei há mais de duas décadas. Ele me encerrou em uma prisão sem muros. Era capaz de ver a vida e as pessoas passarem sem condições de estar com elas. Havia todo tempo do mundo, mas não para elas, não para mim. Eu concorria comigo mesmo, como um cachorro correndo atrás do rabo, testando os limites do meu corpo e mente.
As conquistas materiais supriam as carências de anos anteriores, mas não conseguiam dar significado para minha vida. Por que havia tanta pressa? Por que era importante mostrar resultados imediatos?
Assim, alimentava minha ambição a cada dia, superando elevadas expectativas e cobranças pessoais, indo fundo na idéia de realizar-me financeira e profissionalmente. Era emocionante viver próximo dos limites máximos. Até que as perguntas fundamentais vieram à tona. O que estava fazendo comigo era justo? Por que exigir da vida o que supostamente nunca tive?
Caramba, quanto de isolamento e alienação as paixões podem conter! Vivia apaixonado pelo trabalho, afinal de contas, tinha encontrado precocemente minha verdadeira vocação. Tudo fluía bem e os desafios sempre tinham solução. Cheguei onde poucos profissionais de minha geração chegaram, mas paguei um preço e tanto.
Aonde chegaria vivendo assim? Passei a buscar as verdadeiras prioridades em minha vida. Dei-me conta que tudo que construíra até agora só seria útil para mim enquanto vivesse e uma vez morto, não serviriam para nada. Eu seria esquecido e se quer saberiam quem fui ou deixei de ser. Poderia ter um busto horrível, daqueles que ficam solitários nas praças, sujos de fezes de pombos ou receber o nome de uma rua ou travessa, cheia de buracos e vazamentos.
Hoje, estou me dando conta que preciso viver para mim mesmo e para construir um novo legado para meus desconhecidos descendentes. Penso que não poderia existir para eles, não precisariam saber quem sou, o que fiz e como era. A herança que pretendo deixar traz consigo valores e sentimentos que precisam ser eternizados e tudo que for necessário para que o futuro seja um contínuo presente, não só para os homens e mulheres que carregarão minha herança genética, como para somar àqueles que tem o mesmo objetivo: fazer um mundo mais humano! Acho que estaria dignificando toda a herança genética que recebi de meus antecedentes, que um dia morreram para que estivesse escrevendo assim e aqui.
Tenho claro para mim que a luta pela vida já tem um significado mais amplo: preparar-me para deixar o mundo melhor do que o encontrei.
Tenho um longo caminhar pela frente e preciso resgatar pessoas que perdi do alcance de meus olhos. Não sei se poderei encontrá-las como gostaria, mas estou pronto para lutar com a maior das ferramentas que recebemos de Deus: o amor!

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