Conhecer uma pessoa leva tempo. Conhecer-se leva toda uma vida.

Tenho tido boas surpresas nos últimos dias. Mesmo estando muito atarefado, corrigindo e elaborando provas, enviando/recebendo e-mails para e de todos os cantos, sinto-me realizado por ter a oportunidade de saborear o que a vida tem me ofertado, seja o que for. Em meio à rotina diária de um professor, consegui assistir a apresentação de uma cantora inglesa, Susan Boyle, em um show de calouros pelo You Tube.
Não me refiro a sua afinada voz e interpretação surpreendente, mas a lição que podemos tomar quando levados a fazer julgamentos precipitados das pessoas que não conhecemos, principalmente quando elas originalmente destoam dos padrões estandardizados de comportamento e aparência.
Pode parecer inacreditável, mas muitas pessoas ainda preferem valorizar a aparência externa de homens e mulheres, em detrimento de seu caráter. Conhecer uma pessoa leva tempo, mas como vivemos dentro de uma sociedade que cultua valores imediatistas, essa prática torna-se frequente.
Se essa atitude fosse de um jovem, seria fácil compreender considerando a sua pouca vivência e maturidade, mas quando é tomada por pessoas que já trilharam um bom caminho, é doloroso e desagradável. Como é difícil conceber a alienação que muitas pessoas mergulharam ao longo de suas vidas. Não me cabe julgá-las, pois não sei os motivos que as conduziram a essa situação, mas não posso aceitar que isso seja justo com elas, que mereçam.
A postura preconceituosa e cínica ficou evidente na platéia, que analisava a jovem senhora de 47 anos, antes de mostrar o que tinha de melhor: o seu talento pessoal.
Aquela pessoa guardava dentro de si um poder que foi capaz de tocar milhões de pessoas em todo mundo, e até então vivia retirada com sua mãe em um pequeno vilarejo na Escócia.
À medida que soltava a sua voz, empalidecia seu público que só podia aplaudí-la diante do grande presente que recebiam.
Mas o impacto causado por aquela apresentação conseguiu tocar aos jurados. Reconheceram seu inegável talento e deram-lhe a oportunidade final de concretizar o seu velho sonho.
Fiquei emocionado com a simplicidade, inocência, coragem e perseverança da "velha senhora" que nasceu no mesmo ano que eu, quando o primeiro satélite artificial foi lançado no mundo, o Sputnik. Ela deixou claro antes de entrar no palco, que esta seria a sua última tentativa, disse saboreando um sanduíche, e que se não conseguisse a aprovação, voltaria à sua cidade natal e continuaria a "tocar a sua vida".
A apresentação me deixou emocionado, pois também me vi cometendo os mesmo erros de julgamento, levando-me a me afastar de muitas pessoas por "serem diferentes demais de mim" no passado. A separatividade e a indiferença já me fizeram ser muito cruel comigo mesmo.
Hoje me dou conta de como fui tolo quando mais jovem, mas não me culpo por isso. Precisava passar por esse aprendizado para me reconhecer hoje. Trabalho no presente para que quando olhar para trás, daqui há 20 anos, me reconheça melhor do que há 40 anos.
Todos nós precisamos dar um sentido mais amplo e transcendental para nossas vidas, preenchendo lacunas e naturalmente amadurecendo. O significado de nossa existência fica claro quando usamos a fé como combustível e cumprimos nosso caminho.
Não há necessidade de ser rápido e muito menos de ter a pretensão de chegar ao final. O importante não é a chegada, mas o ritmo que damos à trilha percorrida diariamente, passo a passo, sem expectativas exageradas de aprendizado.
Todos nós temos desafios pessoais prontos para a romper com nosso equilíbrio e segurança, obrigando-nos a parar ou até recuar; mas uma vez superadas as dores e frustrações, sentimos a fortaleza que se estabelece dentro de nós. Essa sensação de plenitude estabelecida em nosso coração faz emergir uma energia que só pode traduzir-se em felicidade.
São momentos breves quando tudo fica claro e passa a fazer um sentido abrangente. É nesse momento de insight que conseguimos dar um passo em direção ao nosso destino, com firmeza e lucidez, deixando claro que o que fomos não seremos jamais, que o aprendizado não foi em vão, seja ele qual for. Quando conseguimos transcender as dores pessoais e sentí-las como dores do mundo, passamos a fazer parte da humanidade e do todo que nos envolve.
Assim, acredito eu, estaremos caminhando para uma vida verdadeiramente feliz e plena de sentido e possibilidade.



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