Sou um professor: fiz a escolha certa

Tenho passado por muitas transformações. A maioria vem de dentro para fora e por isso são irreversíveis, pois decorrem de um aprendizado pessoal. Isso quer dizer que se aprendi, não esquecerei mais. Outras, acontecem de fora para dentro e decorrem da convivência com o mundo e com as pessoas, nem sempre acontecendo de forma harmônica. O aprendizado nessas situações é menos sutil, mas é o gatilho que traz à tona as transformações internas.
Tenho aproveitado o momento muito fértil de minha vida para simplificá-la, reduzi-la a uma equação simples, mas de resultado concreto.
Tenho questionado meus apegos materiais e emocionais. Por que preciso de tantos apegos? É realmente necessário me apegar às pessoas, mesmo sabendo que logo depois poderei estar longe delas por muitos motivos?
Percebo há tempos que não posso ter todas as pessoas que amo sempre próximas, pois cada uma delas tem seu próprio caminho. Quantas pessoas já deixei de conviver na vida? E quantas ainda irei conhecer e descobrir? Será que me é fundamental sustentar um patrimônio de carências emocionais e necessidades artificiais? Mas o que me faz repensar tudo isso? Quero uma vida sem apegos e trabalho para conseguir esse objetivo. Não deixarei de amar quem amo e sempre amei, assim com como estou pronto para amar novas pessoas. Porém, darei autonomia a mim mesmo para viver liberto de sentimentos que me causam aflições desnecessárias e posses impossíveis. Amar com qualidade é deixar liberto o instrumento do nosso amor.
Ao simplificar minha vida, aparo arestas em tolos hábitos e avalio o que é fundamental de fato para ir de encontro aos meus anseios e necessidades verdadeiras.
Trocando em miúdos. Por que tenho que seguir um estilo possessivo de ser? Não há mais necessidade de provar nada a ninguém.
Dias desses recebi uma proposta de trabalho. O argumento usado foi: Você atua tão bem e há tanto tempo que não seria justo colocá-lo unicamente na posição de "professor"!
Na hora ficou claro que o argumento não servia para mim. Agradeci e disse que voltar a ser unicamente professor depois de 25 anos de magistério, decorreu de uma escolha pessoal e amadurecida. Disse-lhe, com uma grande certeza, que este era o momento de resgatar o prazer de lecionar, e que nenhuma outra função seria capaz de me proporcionar tal prazer, por maior que fosse o salário e o status embutido nele.
Também coloquei que tenho compromissos familiares e que gostaria viver o meu futuro, o mais discreto possível, tornando-me quase invisível em muitas situações.
Sinto que já dei a minha colaboração, o meu sangue pelo prazer de lecionar Geografia, mas os tempos são outros assim como as novas prioridades que tracei.
Quando os argumentos são fortes e verdadeiros, colocam fim a qualquer proposta, por mais sedutora que venha a ser.
Saí secretamente envaidecido, mas certo que a vaidade nunca teve espaço dentro de mim, assim como o exibicionismo exagerado, que esconde grandes inseguranças. Em silêncio e calmamente me dirigi para casa.
Ao chegar fui recebido por minha filha e esposa, certo de que fiz a escolha acertada.

Comentários

Muito bem, querido.
Estamos do seu lado para o que der e vier.
Beijos.
Unknown disse…
Durante anos estive caminhando com a geografia debaixo dos braços...nem sempre em sala de aula de corpo presente, mas sempre com a alma embuída do sentimento que se faz sentido cada vez que entramos pela porta, e nosso "espetáculo" recomeça...

Com é prazeroso, saber que esta marca não só amim pertence, e que o orgulho de estar construindo um país, continente, mundo melhor é compartilhado com pessoas como ti...

O orgulho de ser "apenas' professor...e fazer com que isto valha a pena, sem vaidades, pois deveríamos ser assim...


Forte abraço,

Paulo Bastos

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