Amanhã, vai ser outro dia

Acordei com o gosto amargo das lembranças na alma. Tive pesadelos que me fizeram recordar o quanto foi e é difícil a relação com algumas pessoas em minha vida. Assim comecei o dia, recordando o quanto as experiências dolorosas me marcaram. Não me tornei pior por conta delas, mas tornei-me aparentemente cético quanto ao resgate de muitas relações pessoais.
Reconheço que a vida colocou em meu caminho pessoas de difícil convivência. Mas não compreendo ainda o verdadeiro significado desse desafio. Como pode ser possível continuar amando e respeitando a quem te fere por toda uma vida? Como compreender que uma longa amizade possa ser pulverizada em minutos? Mistérios sem explicação aparente.
A vida sempre me fez acreditar em mudanças. Elas significavam superação, aprendizado e evolução. Assim, fiz o que pude para superar barreiras. Abri meu coração, mostrei o que sou sem reservas, provei com palavras e atitudes o quanto seria capaz de fazer para resolver diferenças e melhorar o convívio. Sempre me fiz presente nos momentos delicados e pronto, de braços abertos, para acolher e encarar qualquer desafio. Palavras de incentivo e apoio sempre existiam. É assim que ajo quando amo.
Nossas vidas foram unidas por poderosos laços diante das muitas experiências que partilhamos com uma coragem assustadora. Temos uma convivência que já dura décadas, uma cumplicidade real e ao fim, as diferenças acabaram falando mais alto. Elas cresceram com o tempo, e hoje, esvaziaram de significado o que eu sempre me orgulhei de sentir.
Já me senti culpado, fracassado e triste um dia. Vasculhei o passado para ver o que havia perdido e o que podia ser feito para acertar o passo e me corrigir. Achei e estou mudando.
Parecia que meu esforço, cumplicidade e dedicação não surtiam efeito. Fiz o que muitos filhos jamais fariam nessas circunstâncias. Nunca esperei retribuição formal aos meus atos, mas nunca aceitei o desrespeito ao meu verdadeiro esforço. Essa é a minha maior limitação: eu não aceito ser desrespeitado. Por isso, ao ser desrespeitado me afasto pois é muito difícil aceitar as limitações das pessoas que amo diante de toda minha cumplicidade e amor. Pior ainda é reconhecer o quanto o meu orgulho "ressentido e injustiçado" pode ser impiedoso. Esperar reconhecimento de estranhos é uma atitude imatura, mas das pessoas que amamos, é natural. Hoje administro melhor minhas expectativas e aceito as limitações alheias.
Se não posso ter as pessoas do jeito que sempre desejei, de ter as relações que sempre sonhei, de mudar as pessoas que sempre convivi, mudo eu a partir de agora. Não mudo mais em função do outro, mas em função do que SOU verdadeiramente! Quero ser melhor e dignificar ainda mais a minha vida. Mas nunca me sentirei melhor do que ninguém.
Hoje me orgulho muito do que fiz, pois acertei mais que errei. Eu seria capaz de fazer tudo de novo e certamente faria melhor com a cabeça que tenho hoje. Seria bem menos passional diante dos acontecimentos.
Nesses tempos passados, por mais difíceis que fossem, enchiam de significado minha vida e fortaleciam a crença de que tudo seria melhor no futuro.
Sempre soube que a convivência humana é difícil, mas a sensação de frustração apareceu em meus sonhos, em uma noite passada. Não sou mais um adolescente cheio de planos pronto para concretizá-los, mas gostaria que a história fosse diferente. Se existe um amor, que nunca deixou de existir, por que ele não consegue falar mais alto?
Reconheço minhas limitações para conviver com muitas pessoas. Não tenho culpa sobre as frustrações alheias. Mas eu ainda continuo acreditando em meus sonhos, de ter ao meu lado, a pessoa que tão bem conheço e que é tão diferente de mim. Sinto com a distância física e emocional, como se fosse um vazio que precisa ser preenchido. Mas excepcionalmente hoje, sinto um triste desânimo.
Não gosto de olhar para trás. Minha prioridade são meus pensamentos de agora e o que vivo no presente. Mas hoje está sendo diferente.
Mas se o futuro não for como acredito, não me sentirei frustrado. Não me sinto derrotado. Eu sempre fiz o melhor que pude. E sabe o que me acalenta? Não existe a menor sombra de arrependimento dentro de mim. Essa é uma das maiores conquistas em quase cinco décadas de vida. Hoje é um dia em que os pesadelos noturnos me fizeram desacreditar em meus sonhos.
Por sorte eu só vivo isso um único dia e uma vez por ano. "Amanhã, vai ser outro dia!"

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