Arranquei o ciso e não perdi o juízo!

Decidi arrancar o ciso no sábado de Carnaval! Me disseram que eu era doido pois perderia o mais longo feriado de 2010. Ficaria cheio de dores, não poderia comer direito e tomar sol, ficaria com o rosto inchado etc. Mas como não sou um folião de 1a. e não iria viajar, decidi antes mesmo de perder o meu juízo e me acovardar, extrair o grande dente que tracionava minha arcada inferior há muitos anos.
Estou com o rosto inchado e dolorido. Não saio de casa há mais de 2 dias. Tive febre e dor de cabeça, mas que estão sendo derrotadas com um analgésico para se colocar debaixo da língua. Ainda não tive coragem de olhar os pontos que tomei e apesar de ter trazido o dente comigo para apresentá-lo como troféu para os parentes e amigos, por enquanto mal consigo olhá-lo.
Recluso por opção, voltei a refletir sobre minha vida. Olhando de minha janela o estrelado céu de fevereiro nesta madrugada, lembrei-me que há muitos anos atrás implorava a ajuda de Deus em um dos momentos mais dolorosos que já pude viver.
Apesar de tentar relembrar ou mesmo reviver as sensações de um momento tão delicado, não consegui ficar emocionado ou angustiado. Talvez por sentir que precisava fazer uma escolha, estar ciente que não poderia ter tudo ao mesmo tempo, tomei há anos uma corajosa decisão de renúncia. Abaixei minhas expectativas, entreguei minha vida à Aquele que sempre confiei.
O que tivesse que acontecer a partir dai deixava de ser uma opção pessoal. Aceitaria sem reservas o que quer que fosse. Certamente por isso, as lembranças não me trazem arrependimento ou dor hoje ao resgatá-las em minha memória.
O tempo passou e tudo acabou acontecendo como havia desejado, mas com um tempo diferente. Minha mãe e minha filha estão vivas, e tornaram-se no maior aprendizado que recebi de Deus para chegar bem aos 100 anos sem perder o juízo!
Será sempre um grande aprendizado conviver com a dor, seja ela física ou emocional. Quando nos dispomos a aprender com ela, nos fortalecemos verdadeiramente. Hoje sinto-me cada vez mais corajoso e desprendido em muitos aspectos. Se a dor é física, vou me tratar com medicamentos e ao mesmo tempo, vou aprendendo com os limites de meu corpo.
Se a dor é emocional, trato de vivê-la sem excessos, pois agora sei que metade dela tem um mistério que só terei consciência tempos depois. Então acabo fazendo o que posso para sobreviver à experiência, passando a ter um olhar repleto de esperança e otimismo.
Nesses casos eu não posso deixar tudo nas mãos de Deus. Eu tenho um livre arbítrio que me permite estar consciente da parte que me cabe em todas as situações. Por isso faço o melhor que posso para enfrentar com coragem todos os desafios de "peito aberto". Quanto à conclusão final, fica com o meu "parceiro celeste".
Arranquei o ciso, mas perder o juízo com quase meio século de existência...quase impossível.
Perder o juízo é perder a consciência do estar vivo. E não desejo isso para ninguém.

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