O café dos benditos!

Acabei de passar um café cheiroso. Apesar de não ser um apreciador da bebida, adoro o cheiro do café. Faço café em casa raramente, pois acabo usando o solúvel por comodidade, diretamente no leite. Mas em compensação faço café para os professores do Liceu Municipal e do Colégio Pedro II. Faço café também na casa dos meus pais, na casa de meus sogros e quando visito amigos queridos, sem contar na casa de parentes mais próximos.
Tornou-se um ritual cheiroso em minha vida. Costumo acrescentar canela em pó ou aniz estrelado ou ainda, uma colherzinha de chocolate de 1a. qualidade. Assim, o cafezinho que brinco de fazer, passa a ter um toque gourmet. Aprecio cafés diferenciados (em pó ou grão). Sentir o aroma e o sabor é um ritual de muito prazer, que só faz sentido quando aproxima as pessoas. Não costumo tomar café sozinho, mas bem acompanhado. Sinto falta de longas conversas regadas a um café passado no coador de pano e servido em um bule bicudo.
Perguntei a minha mãe se ela podia me dar o seu bule para mim. Mas ela disse que existiam maneiras mais modernas de fazer um bom café e afirmou que eu estava envelhecendo. Achei o máximo e desliguei o telefone feliz e determinado em encontrar um bule das antigas.
Sinto falta de longas conversas com quem tenho afinidades. Faltam oportunidades para encontros. O tempo parece não ser suficiente, além de correr contra nós.
Muito me orgulho da minha memória. Sinto orgulho do que já vivi e acho que o saldo foi muito positivo, considerando que estou envelhecendo com muita tranquilidade. Sempre me deram mais idade do que realmente tenho, tanto por minha aparência física como por meus pensamentos.
Fui preterido na infância e adolescência por me comportar diferente. Lembro-me quando o meu avô materno, sorteou a sua atiradeira de infância entre os netos presentes. Eu fui o ganhador e fiquei revoltado em saber que era para matar passarinhos. Devolvi ao meu avô na hora, que ficou visivelmente constrangido. Sempre odiei pássaros em gaiolas. Todos que eu pude libertar, libertei. Libertas que será também, aprendi na adolescência.
Agora há pouco, minha filha e sua melhor amiga chegaram aqui em casa pedindo uma caixa de sapatos. A caixa serviria para colocar uma velha sabiá encontrada tonta em meio ao jardim. As meninas nos apresentaram a sabiá, que parecia estar abatida, mas não ficava de pé. Providenciaram alpiste obtido na vizinhança. Deram para a pobre ave água pela seringa e um pouco de banana amassada que foi consumida rapidamente. Agora foram levar a sabiá para passear e assim respirar ar puro.
Tenho para mim que estar presente (de corpo e alma) diante das situações cotidianas, é uma boa forma de viver leve e sem apegos desnecessários. Hoje achei surpreendente o que li na coluna de Martha Medeiros e que retrata perfeitamente o que venho sentindo. É arrebatador e libertador ao mesmo tempo.

"Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem. Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar à sociedade e ao mesmo tempo ser livre".
 
 

 
 

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