Carrinhos com barbante

Estou a espera do último eclipse visível no Brasil em 2008. Poderia estar fazendo muitas outras coisas, mas estou com a mente inquieta. Está difícil fixar a atenção no trabalho que tenho realizar agora. Sinto-me ansioso quando minha filha não está em casa. Fica faltando um pedaço. Não consigo ficar relaxado quando minha filha não está por perto. Sinto falta das travessuras e da bagunça que ela faz. Como uma criança consegue preencher um espaço físico com a sua presença! E que espaço vazio deixa em meu coração quando não está por perto.
Sei que ela está muito bem. Que certamente não sente a minha falta como eu sinto a dela. Deve estar brincando com os primos e sendo deliciosamente paparicada pelos avós e a madrinha.
Eu sei o quanto o amor ofertado pela minha família é importante, principalmente quando é para uma criança. Tem qualidade, é envolvente e traz uma segurança gostosa.
Eu experimentei esse amor e sei do que ele é capaz. Eu fico feliz por meus pais, por minha irmã e por minha filha estarem desfrutando desse encontro, encontro que já poderia ter acontecido antes, mas o que vale de fato é que está acontecendo.
A minha família é muito especial. Reconheço qualidades e defeitos, mas aprendi a conviver com tudo e com todos ao longo de décadas.
Recebi de meu pai uma foto ampliada de um monóculo. Veja que antiguidade! Estou na foto, um menino com 5 anos, segurando um caminhão verde e vermelho de plástico, preso por um barbante comprido. Como de costume, estava sorrindo. Comigo estavam minhas primas mais próximas, com seus respectivos modelitos de praia dos anos 60! Todas felizes, com 7, 10 e 15 anos. Era um dia de verão na Praia do Anil, em Magé! A água não era poluída. Camarões, sirís e peixes abundantes, assim como conchas finas que nos obrigavam a entrar na água de chinelos e congas para superar os obstáculos das conchas e do lodo verdinho, comum nas praias do fundo da Baía da Guanabara.
Estou aqui viajando nessa foto colorida, de mais de 40 anos! Deixo meus pensamentos fluírem, buscando as lembranças bonitas de um passado distante.
Gostaria de poder voltar no tempo e abraçar forte aquele menino magrinho, moreno e sorridente, sempre disposto a brincar e a puxar carrinhos com barbante. Gostaria de lhe dizer que ele sempre estará vivo dentro de mim, esteja onde eu estiver.

Comentários

Postagens mais visitadas