Tragédias pessoais

Tenho observado com muita angústia o drama da população de vários municípios de Santa Catarina, estabelecidos na planície fluvial da bacia do rio Itajaí-Açu. Os índices pluviométricos foram dignos de um dilúvio bíblico. Choveu em apenas um dia, 399mm, quando a média mensal para novembro é de 177mm. O somatório de 5 dias, supera os 1.000mm, bem próximo da média anual para a região. O nível dos rios se elevou em 10 metros, destruindo e inundando tudo pela frente. As encostas aparentemente mais seguras, deslizaram dramaticamente, pois ficou claro que o nível de saturação do solo foi superado. Continuo perplexo com as imagens, não só como pesquisador/professor, mas como ser humano que sente compaixão pelas pessoas que perderam tudo, menos a vida, felizmente.
O depoimento de uma sobrevivente me fez chorar. Ela perdeu toda a família em uma noite. Ouvia gritos desesperados por ajuda de seus parentes sendo arrastados pela correnteza sem que nada pudesse fazer. Perdeu esposo, filhos, pais, irmãos e sobrinhos para um pequeno córrego que costumava brincar quando criança. Perdera todos os bens pessoais e até o emprego, pois a fábrica onde trabalhava desapareceu.
Resgatada e ferida em meio a confusão entre bombeiros, militares e repórteres, disse que acabava de renascer. Agradecia a Deus a nova oportunidade, mas não sabia por onde começar a nova vida. Não sobrou nada de sua vida anterior, apenas as lembranças do que havia sido e do futuro, mal sabia o que esperar. Disse também, que acreditava não perder mais nada, pois já haviam lhe tirado tudo. Não tinha nem fotos que pudesse guardar como lembrança, na hora em que a saudade doesse. O bairro pobre em que viveu toda uma vida, também estava irreconhecível.
Doloroso foi ouvir dessa senhora, que não conseguia mais se lembrar dos rostos das pessoas que amava. Recordava-se apenas das águas barrentas levando embora sua família e sua vida.
Chorei, pois não há como ser insensível a esses dramas a que estamos sujeitos. Começar do zero é um desafio, mas perder a quem amamos de uma forma tão trágica, só sendo muito, muito forte.
Muitas vezes ainda lamento as pequenas perdas que tenho tido na vida. Logo depois vejo que não foram perdas reais, pois percebo que não eram tão importantes e que poderia viver sem elas. A mesma situação se aplica para pessoas que pensávamos ser insubstituíveis. Quando a distância cria abismos muito largos, não há como construir mais pontes. Imagine quando você perde tudo e todos que amamos de uma vez só. Esses se tornam insubistituíveis!
Espero que todo esse sofrimento acabe logo. Que todos possam não só reconstruir suas casas, mas suas vidas. Ser solidário é fundamental nessas horas de angústia. Ajude como puder, seja através de doações ou de uma simples oração para que não desistam sob nenhuma condição. Peça para o desconhecido aquilo que de melhor quer para você.

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