Meu diplomático orgulho!

Sempre senti uma sensação melancólica ao fim de um domingo. Pode estar fazendo frio ou calor. O céu pode estar nublado ou repleto de estrelas, a sensação de incapacidade de reter o tempo é inevitável.
Não posso reter nada e nem ninguém. Se quiser resgatar quem perdi, sei que o movimento deverá ser meu. Não posso pedir a uma pessoa aquilo que ela não está capacitada em me dar ou porque não tem e se tem, mal sabe como usar. A iniciativa deverá ser minha, assim como terei que estar preparado para ser repelido ou aceito.
Tenho meditado sobre o meu orgulho e o seu potencial de separatividade. Ele é tão sutil que me faz crer que não preciso buscar quem um dia se foi, mesmo sabendo que não fui eu o causador da distância. Meu diplomático orgulho me fez acreditar que esse seria o melhor caminho para me poupar dos desafetos alheios. Entrei até em uma comunidade do orkut chamada "a arte de evitar as pessoas"!
É muito desagradável confrontar-me com pessoas que deixaram transparecer o quanto a minha existência se tornou incômoda para elas! Se de repente virei um calo doloroso, a saída foi sair educadamente de sua convivência, afinal de contas, preciso me poupar de aborrecimentos desnecessários, considerando que nem sempre escuto desaforos e reajo como se fosse um monge tibetano. Ainda assim reconheço que venho alimentando a distância com maestria.
Esse meu orgulho me retém em muitas situações, mesmo diante do simples fato que preciso ser a mudança que espero nas pessoas. É muito mais fácil eu ceder do que esperar que cedam. Sou mais preparado para ceder justamente por ser mais forte na flexibilidade. Trilho um caminho espiritual há quase duas décadas e creio que este é a maior desafio que terei na vida.
Preciso vencer um imimigo silencioso e que pensa me conhecer muito bem. Tenho que criar uma estratégia para neutralizá-lo em muitas situações e poder me liberar do medo (assumido) de ser magoado de novo. Se fui magoado, foi porque permiti e por isso, busquei a distância para evitar o confronto, mas longe de resolver a questão comigo, adiei o desfecho para depois. Foi mais cômodo me colocar na posição de reativo. Só que agora estou ficando incomodado de verdade!
Sei que muitas vezes incomodei por ser quem sou, mas o problema nunca esteve comigo, por isso, fiz vista grossa a muitas picadas que recebi por estar consciente das limitações do outro. Mas agora que existe uma distância física, uma confortável margem de segurança, que me habilita avaliar meus sentimentos com clareza e profundidade. Esse é o lado bom da distância.
Hoje, tenho me instrumentalizado bastante e meu olhar tomou outra direção. Não me vejo no centro de mim mesmo, mas lanço meu olhar para novas percepções sobre o ser humano.
Fica claro que o mesmo orgulho que me atrapalha tomar a iniciativa tem a mesma raiz daqueles que se colocam na posição de vítimas e injustiçados, daqueles incapazes de reconhecer que fizeram uma besteira e acreditam não terem direito a uma nova chance. Como posso tirar o direito de alguém errar, se eu mesmo cometo erros?
A diferença está em reconhecer falhas e deslizes como inerentes à experiência humana. É fácil, cômodo e seguro se alienar dos desafios que temos que encarar agora, mas quando usamos o aprendizado experimentado a nosso favor, dosando tudo com bom senso e recheando com o livre arbítrio, teremos a oportunidade de vislumbrar o que lá no fundo esquecemos nessas horas: que somos todos iguais, reconhecendo as devidas diferenças que antes de nos separar, precisam ser usadas para nos unir, mesmo que para uma nova tentativa.

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