Bem feito!

Passei uma manhã divertida. Dei boas gargalhadas como há tempos não fazia. Cheguei até a chorar e sentir dor de barriga. Não pense que assisti uma comédia ou fiquei ouvindo boas piadas. Na verdade, fui assumir a primeira multa de trânsito depois de 21 anos ao volante.
Parei dia desses na única vaga disponível, próximo da feira que costumo fazer quase todos os sábados. A placa indicava que era exclusiva para deficiente físico. Mas mesmo assim, decidi parar, contrariando as leis de trânsito, cidadania e bom senso. Resultado, tomei uma merecida multa. Foi uma infração leve e acho que dois ou três pontos na carteira.
Ao chegar de volta ao carro, carregando duas enormes sacas cheias de frutas, verduras e legumes, não acreditei. Eu havia sido multado. Quando pensei em esbravejar, pensei duas vezes e lembrei-me do que falo para minha filha, quando se nega a me ouvir: BEM FEITO!
Guardei as compras na mala, tirei envergonhado a multa do vidro dianteiro e fui para casa.
Após alguns dias, chegou a multa no nome da minha esposa! Esclareci o mau entendido, tirei dela a responsabilidade da multa e lá fui eu assistir aulas no Detran, expurgando e assumindo o meu erro.
Cheguei pontualmente às 9:00 horas e lá fiquei com mais 15 infratores-pecadores. Eram jovens, adultos e idosos. A professora extremamente simpática e segura, apontou falhas comuns dos motoristas. Colocou o quanto padece por ser uma mulher ao volante, nos deixando muito a vontade para que cada um pudesse relatar suas dificuldades pessoais na direção.
Nos abrimos com muita sinceridade diante dos fatos. Por que negar o óbvio? Estávamos todos ali para aprender ou reaprender, como queira. Os depoimentos convergiram para um ponto comum: por que os pedestres não são orientados pelos guardas de trânsito para agirem com maior responsabilidade e segurança? Discutimos sobre o cáos dos transportes urbanos, do descontrole emocional diante do acelerador, da agressividade latente em cada um de nós, dentre outras.
Fomos colocados em dupla, frente a frente e recebemos um papel com conceitos que deveriam ser empregados no dia-a-dia do trânsito, por exemplo: bom senso, paciência, empatia, equilíbrio, etc. Depois cada dupla se posicionava. As colocações foram excelentes. Aprendi pois validei a todos que estavam ali. Mas quando a dupla do equilíbrio se manifestou, foram demais! A dupla explodiu literalmente. Assumiram seu desequilíbrio e falaram tudo que faziam no trânsito há anos com uma coragem e tanto. Morremos de rir, rimos muito, pois todos secretamente gostariam de ter feito o que fizeram. Não colocaram a vida de ninguém em risco (pelo menos foi o que me pareceu), mas aquela de meter a mão na buzina da Scania para acordar a idosa que distraidamente atravessava a rua foi demais! Pior foi ouvir que a senhora usou um dedo apenas para revidar, chamando para a briga. Ainda teve o caso da pedestre que esculhambou o filho motoqueiro sem reconhece-lo por causa do capacete, etc.
Foi uma manhã surpreendente, mas posso garantir: nunca mais vou parar na vaga de um deficiente físico. Aliás, eu não preciso mesmo, graças a Deus.

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