Escrever sobre política...

Não me peça para escrever sobre política. Sou daqueles brasileiros que passaram por uma contínua decepção diante do cenário político nacional, apesar da crescente, mas lenta, conscientização da população brasileira.
Digo isso pois vivi todos os anos da ditadura militar, dos 3 aos 24 anos, com um mix de sentimentos. Até a minha adolescência, tinha a sensação de que "algo" era muito estranho, mas não sabia o quê.  Ao entrar na adolescência, tinha certeza que estava tudo errado. Tinha aulas de Educação Moral e Cívica. Eu sabia pela atitude de meus professores, que sempre colocavam que o Brasil era perfeito, que vivíamos em um mundo opressivo. Além dos mais, diziam para tomar cuidado com os terroristas, maconheiros e hippies que pregavam a liberdade!
Só fui descobrir a ditadura real quando cheguei à 3a. série do Ensino Médio e quando fiz  Geografia na UFRJ. Descobri que tínhamos a opção de lutar pelo que considerávamos justo e verdadeiro. Descobri a desobediência civil como um dos maiores direitos do cidadão, para resistir aos desmandos arrogantes dos presidentes militares.
Lembro-me do quanto fiquei chocado com a arrogância e desrespeito do último ditador ao se referir aos anseios dos povo, como eleições "Diretas Já".
Mas foi a partir do governo de José Sarney, que aprendi o quanto a fusão de alienação política e corrupção explícita foram dolorosos para todos nós.
Ainda me lembro do quanto fui usado como cidadão. Cara, eu fui "Fiscal do Sarney" durante o Plano Cruzado e acreditávamos que aquele senhor de farto bigode, por não ostentar uma farda, estaria sendo transparente conosco e seria capaz de construir um futuro com democaracia e justiça. Como me senti enganado e usado, não só eu, mas toda nação diante de um governo sem escrúpulos.
Não vou entrar em detalhes quanto ao governo que se seguiu. Prefiro deixar as minhas impressões para quando estiver em sala de aula. Mas por favor, fica muito complicado acreditar em mudanças imediatas em todos os sentidos. Acredito em mudanças construídas com o tempo, por isso enalteço a crescente conscientização política dos cidadãos brasileiros.
Não acredito que iremos cair no conto do Collor, nos constrangimentos criados por Itamar, na indiferença social de FHC e no culto à forte imagem de Lula.
Mas as propostas dos novos candidatos não trazem as mudanças que tanto necessitamos. Ainda não fizemos uma reforma agrária verdadeira e ainda muito me angustia a miséria e a fome. Não quero ser injusto ou imparcial agora, mas reconheço os avanços sociais do governo que finda, mesmo sabendo que foram usados pela mídia governamental. Entretanto, a corrupção é um mal que atinge quase todos os partidos, como se fosse um vício fora de controle.
Por isso, sinto-me pouco empolgado com as eleições de 2010. Já escolhi parte dos meus candidatos, depois de ouvir suas propostas e projetos no torturante horário político, aquele que retrata o despreparo de nossos candidatos ou aqueles rostos sempre envolvidos em escândalos de toda natureza.
Eu não sou em exemplo de empolgação, não faço parte da geração Y (acho que sou da geração P (de p...) com o pouco que conseguimos em quase 20 anos.
Prefiro focar a minha atenção, meu olhar no ser humano e no adomercido potencial de cada um, pronto para ser descoberto. Assim, creio que poderemos descortinar uma nação, a minha nação, a nossa nação.
Por isso, não me peça para escrever sobre política.

Comentários

Caroline Maul disse…
Nó, professor! Estava assistido as propostas no horário político e lembrei na hora de suas aula... Pensei: qual seria sua opinião ao ver aquela tragédia toda... Excelente post!!! Foi como eu imaginei! rsrs
Abraço
Caroline,
Apesar do meu desencanto pessoal, não poderia deixar de votar. Já escolhi meus candidatos, pois não tenho coragem de votar nulo ou em branco.
Agora é torcer para que depois das eleições, a justiça seja feita!
BJS
Caroline Maul disse…
Pois é... O maior desejo e o que de coração espero é "que a justiça seja feita"!!!
Bjs

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