Perdas surpreendentes

Perdas sempre serão dolorosas, sejam para a vida ou para a morte. Perder significa abrir mão do que acreditamos ser de nosso domínio e propriedade, como se isso fosse possível. Renunciar é diferente, pois temos a consciência de que não temos nada, que tudo tem uma transitoriedade e importância de acordo com o momento que vivemos.
Pessoas entram e saem de nossa vida e poucas são aquelas que permanecem e formam  fortes vínculos afetivos para toda vida.
As perdas podem ser surpreendentes e nos deixar pasmos diante da velocidade e intensidade com que ocorrem. Podem ser tão rápidas que nos impossibilitam de  resolver mau entendidos. Pode não ser possível um longo abraço para matar saudades e dar início à uma reconciliação. Parece que precisamos ser estremecidos com grandes perdas para iniciar mudanças em nossas vidas. A dor da perda  será única e por mais que a renúncia seja para mim um aprendizado, o apego à vida sempre falará mais alto, pelo menos em um primeiro momento. Talvez a dor seja menor quando norteamos nossa vida para a diminuição aos apegos, mas a dor mesmo momentânea, deixará uma saudade daquilo que poderia ter sido, mas não foi. A saudade quando é grande demais, transborda pelos olhos. À medida que tempo vai passando, a vida se incumbe de fazer os ajustes necessários para que possamos resgatar um novo equilíbrio.
Foi assim que perdi minha prima dias atrás. Eu continuo vivo. Ela não mais.
Em meus sonhos, vejo as pessoas que sofrem, felizes. Vejo pessoas amadas aprisionadas em seus corpos deformadas, livres e felizes. Vejo também em meus sonhos a angústia e a solidão, cedendo espaço para a esperança e a fé.
Sonho com um mundo real diferente, livre de egoísmos e repleto de possibilidades. Sonho com um mundo de encontros e reencontros antes que seja tarde demais. Tarde demais para voltar à trás.
Se existe de fato uma mensagem diante das perdas, é que precisamos ver através delas quais são as nossas reais necessidades diante da vida. A nossa dor acaba ficando pequena quando a sintonizamos com as dores do mundo. Aprecio e reverencio seres humanos, que apesar de uma vida de sofrimentos, ainda guardam dentro de si um coração generoso e aquela velha certeza, que dias melhores sempre virão.

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