Natal I

O Natal já está mostrando ar de sua graça. Mas o que é isso? Ainda estamos no segundo dia de novembro! Mas o Natal chegou para muitas famílias. Já pude observar em meu condomínio, alegres guirlandas nas portas e árvores de Natal repletas de luzes coloridas. Não seria cedo demais para comemorar um aniversário que ninguém esquece? Por que tanta pressa? Será que todos tem idéia do seu significado?
Sempre senti o cheiro do Natal no ar, mas no mês de dezembro. Era muito gostoso chegar na casa de meus pais (quando eu morava com eles) e sentir o cheiro das frutas, organizadas em uma fruteira por minha mãe. Aquele "mix" de aromas de abacaxi, uvas, maçãs, pêras, ameixas vermelhas, mangas, cerejas, morangos, figos etc lembrava-me da proximidade do grande dia. Era o período de grandes faxinas. Lavavam-se as cortinas, arrumavam-se armários e gavetas e principalmente, jogava-se fora os cacarecos acumulados ao longo do ano.
Me dava uma sensação de renovação o Natal.
Por mais difícil que tenha sido o passado, meus pais faziam tudo para que o Natal fosse a data mais esperada e nossa casa tinha que estar preparada para tal. Além de limpa, organizada, decorada e cheirosa, nossa casa aguardava também o Novo Ano.
Eram tempos difíceis, muito difíceis, mas repletos na esperança de pequenos milagres. Não havia como esperar grandes milagres, mas se os pequenos fossem acontecendo lentamente, juntos tornariam-se um grande.
A nossa ceia não possuía exageros. Comíamos com enorme prazer o que estivesse no prato. Minha mãe sempre arrumava a mesa com muito bom gosto e capricho. Meu pai limpava os talheres e copos com álcool para que estivessem brilhantes. O vaso repleto de palmas amarelas, não concorria com nossa árvore de Natal com bolas coloridas e decoradas, que passavam o ano guardadas em caixas de papelão no armário mais alto, salvas de minhas mãos curiosas em tocá-las.
Lembro-me de um Natal que me marcou para toda vida. Eu não ganhei nada de presente. Apenas a minha irmã ganhou uma boneca. Eu entrava na adolescência. Não havia dinheiro suficiente. Mas havia uma certeza tão grande no ar de que tudo iria dar certo, que ceiamos arroz, batatas cozidas e guaraná como se fosse um banquete. A vitrola tocava sem parar um "long play" de músicas natalinas - A Harpa e a Cristandade - que criavam um clima especial, como se o Papai Noel fosse descer pela chaminé (lá em casa nunca teve chaminé) ou passar pelo buraco da fechadura, como minha mãe me fez crer quando criança.
Eu nem dei falta do presente, aliás, foi neste Natal que pude perceber que os presentes não significavam nada para mim. Era muito mais importante estar com minha família, sob qualquer circunstância. A partir desse Natal, eu soube que seu espírito e significado estariam sempre presentes na minha casa, na minha família e em meu coração não só no dia 25/12, mas ao longo de toda a minha vida.
Pode parecer simples criticar o consumismo e o desperdício que foram incorporados a data, mas longe de criticar é preciso resgatar o seu valor. O aniversariante agradece.

Comentários

Faber disse…
Delicioso texto. Gostinho de rabanadas e de esperança.

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