Sinfonia do Despertar (2006)

 Não dá para fazer de conta que não ouço....a orquestra de sabiás-laranjeiras, macucos, cambaxirras, andorinhas, bicos-de-lacre, cardeais, canários da terra dentre outros que ainda não consegui identificar. Essa orquestra sinfônica me acorda todo dia por volta das 5:30 da manhã, obrigando-me a levantar e ir até a janela da sala, por muitas vezes. O silêncio profundo da manhã é varrido por todos esses cantos. Nenhum outro som consegue superá-los.


E ao longo de todo dia, consigo ouvir esses cantos, que vão se misturando ao som de crianças brincando, adultos conversando e de automóveis percorrendo o condomínio.

E ao cair da tarde, quase 12 horas depois, a 2a. parte da apresentação se inicia, mas apenas as sabiás tem força para cantar e ser ouvidas. Eu creio que os outros passarinhos continuam cantando, mas por um tempo menor, considerando que a noite não tarda a chegar.

Mas no sábado, ao sair da casa de meus pais, pude ver e ouvir uma sabiá-laranjeira com um canto especial e diferente. Posicionada na cumeeira de um telhado, bem na minha frente, obrigou-me a parar. À medida que eu ficava mais admirado, ela arrepiava as penas do seu peito amarelado como se quisesse cantar mais alto. Ela dobrava o som a ponto de ecoar nas paredes e telhados próximos. Não foi um canto para mim. Era para todos que estivessem prontos para perceber o seu esforço, o seu prazer, a sua existência.

Em meio a minha perplexidade e êxtase, convidei um amigo para acompanhar-me à aquela audição. Queria partilhar a experiência inédita e fantástica, mas ele não tinha tempo e não conseguiu ver ou ouvir nada. E foi embora rapidamente, com seus passos bem marcados.

Eu continuei até que ela me fugiu a visão voando para outro telhado. Como uma ave tão pequena e frágil poderia cantar tão alto e forte? Continuava a cantar ao longe e assim, decidi seguir o meu dia. Mas tudo estava diferente pois eu havia percebido que o mundo é muito maior do que poderia imaginar. Que eu era muito maior do que acreditava. Sentia-me repleto de esperanças e sentido. Estava claro que a minha vida é uma dádiva divina. E que viver plenamente é o que há de mais importante a fazer.

Sabe aqueles momentos conhecidos como insights quando por uma fração de segundos compreendemos tudo? Somos capazes de vislumbrar respostas a todas as nossas perguntas. Tive a sensação clara e objetiva dos motivos que me trouxeram aqui e o que preciso fazer. Tudo passava a ter um sentido claro e era extremamente simples.

Eu creio que esses lampejos, deja vúinsights acontecem muitas vezes para nos dizer que viver é um exercício simples quando estamos conectados e percebemos a grandeza de uma força, que nos ampara em qualquer situação.

Agora interpreto o canto diário dos passarinhos como um chamado para não deixar de conectar minha vida a seu verdadeiro sentido e destino.

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