Amebas

Estava de recesso, meio atarefado. Fica difícil ter vários papéis ao mesmo tempo: sou marido, pai, filho, irmão e professor e às vezes, me atrevo a escrever aqui. Relutei bastante em escrever em um espaço tão impessoal e ao mesmo tempo tão devassável. Sempre gostei de escrever no papel, de todo tipo, usando canetas diferentes e usando letras diferentes que mostravam o meu estado de espírito.

Já pensei em transcrever para cá algumas idéias, e quando o fiz, ficou meio estranho. Primeiro por ser pessoal demais e segundo, por não deixar transparecer meus sentimentos, muitas vezes surpreendentes.

Hoje tenho ficado bastante em silêncio. Paro de falar e consigo processar melhor minhas idéias. Também preciso ficar sem ouvir sons para não desviar a minha atenção. A noite é bom fazer isso, quando todos estão dormindo. Nesse momento estou comigo e posso ouvir o meu coração, acalmar meus sentimentos e perceber por instantes, para onde estou conduzindo a minha vida. Avalio escolhas e me deparo com situações que preciso resolver. Sinto que sou hoje melhor do que ontem, mais ainda não tão bom quanto serei amanhã. E espero calmamente amanhecer.

É muito bom não ter que provar nada a ninguém ou se submeter a julgamentos. Sempre que entro nesse estágio de meditação, consigo na maioria das vezes uma tranquilidade especial, mesmo que não obtenha respostas às perguntas.

Tenho exercido como nunca o meu livre arbitrio diante das situações que se apresentam em minha vida. Mas fica difícil exercê-lo diante do inesperado, daquilo que foge totalmente ao meu controle? Não, pois o único caminho é aceitar com humildade e resignação. Sou resignado diante daquilo que é muito maior do que eu. Já assumi a minha fantástica insignificância diante da vida e Dele. Ontem mesmo, eu e uma amiga chegamos a mesma conclusão, estarrecidos: somos amebas diante de tudo que estar por vir e de todos que virão no futuro. Cremos em uma humanidade bem melhor, evoluída e madura que irá dispensar posses e sentimentos que hoje nos são essenciais à vida agora.

Reconhecer a minha insignificância me liberta de amarras e obrigações diante da vida. Estou conseguindo ver, a cada dia, o que de fato é essencial para mim.

Já está claro o caminho que tenho que percorrer. Mesmo assim, não sei dizer como será esse trajeto, a que velocidade preciso seguir e quando chegarei ao fim. Eu acredito que o que busco é para sempre. Nessas horas o iníco, meio e fim tornam-se um só.

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