Línguas estranhas

Caramba, cadê o sol? Desde que voltei da praia vejo-me envolto em edredons para dormir. Ainda insisto em ficar de short em casa, mas ficar sem camisa não dá mais. Voltei a tomar o meu chá verde orgânico antes de me deitar, como faço no inverno. Mas estamos em janeiro!
Se quiser sair para caminhar tenho que levar guarda-chuva e a parca, pois se ficar molhado com a temperatura baixa, certamente vou me resfriar.
Estou temendo um retorno ao trabalho com dias de calor e céu azul. Será cruel e revoltante. Agora mesmo cai uma garoa fina aqui em casa e o céu continua cinza e imutável desde cedo.
Não consigo fazer um programa ao ar livre com minha família em Petrópolis há tempos. Já arrumei gavetas, armários e estantes, fiz faxina no escritório, organizei papéis e contas vencidas e à vencer, lavei o carro (que já está sujo de novo) etc.
Tenho descansado de verdade. Isso significa dormir bem, brincar com minha filha bastante, não estar preso a horários e datas, assistir filmes na TV, ficar mais tempo no computador e descobrir muitas pessoas que estavam perdidas até então.
Esse 2009, como já escrevi antes, tem sido muito diferente. Na verdade, sou eu que estou alterando minha percepção do mundo com mais firmeza e coragem. Ainda me assusta a nova capacidade de deletar o que e quem me incomoda agora em 2009. É como se eu não estivesse mais disposto a perder tempo por nada e ninguém que realmente valesse a pena.
Nunca tive receio de por fim à amizades hipócritas. Não tenho a menor vocação para tolerar pessoas com esse estilo. Ontem mesmo fiquei irritado dentro de uma loja. Fui comprar um calendário, tipo folhinha, para dar de presente à minha mãe.
Enquanto esperava o atendente embrulhar o presente, não pude como não ouvir o diálogo entre três pessoas. Uma senhora evangélica (que comprava terços para a filha e neta católicas), um homem católico (ligado a um movimento conservador, indignado com semelhanças entre missas e cultos) e uma mulher, espírita (falando sobre a doutrina e cultos africanos)!
O mega debate tem início. Decidiram se cutucar mutuamente à medida que se revelavam um para o outro. Eu fiquei perplexo com a explosão de separatividade e me lembrei de imediato nos palestinos e judeus.
O moleza do atendente, que fazia o embrulho em câmera lenta, estava mais interessado naquele debate, cheio de farpas afiadas, do que me atender. Tive que lembrá-lo que estava ali esperando e queria ir embora.
O trio percebeu pelo meu belo semblante que estava irritado. Sentia que acabaria tragado para aquela discussão inútil se não saísse logo. Talvez pensassem que fosse judeu, palestino, ateu ou seja lá o que for, mas eu queria mesmo é sair rápido! E saí batido. As falas já demonstravam alterações no volume. Os braços já se sacudiam. E as expressões faciais...
Eu não sou dono da verdade, mas não dá para tolerar debates vazios e de argumentação conflitante. Ninguém chegaria a um acordo sobre nada. Já vi esse filme antes. Não se discute pontos de vista, principalmente quando envolve a fé. Eram três pessoas falando línguas estranhas! Não buscavam pontos em comum, mas destacavam diferenças entre si.
Por que ter sempre a razão diante do outro? Por que não respeitar as diferenças e torná-las um ponto de união? Não somos todos iguais e isso deveria ser visto como uma vantagem. Imagine o potencial que cada um traz dentro de si! Posso não ser bom em Matemática, mas outros usam-na como a mesma facilidade e prazer que aprendo Geografia.
Lembro-me agora daqueles que cheios de aptidões não tiveram e não terão a chance de aproveitar todo o seu potencial intelectual, emocional e espiritual. Aqueles que morrerão cedo, aqueles que já morreram e aqueles que estão próximos da morte.
E quanto a nós que permanecemos vivos? Qual deveria ser a nossa postura diante da vida e dos outros? O debate é saudável em muitas vezes, mas nem todos sabem usufruí-lo de verdade, justamente pela necessidade de auto-afirmação que temos.
Eu já descobri que estava errado em muitos papos com amigos e foi ótimo perceber isso! Como pude me enganar por tanto tempo, pensei. E aprendi. Aliás, aprendo mais quando ouço do que quando falo. Por isso, tenho refinado minha audição.
O potencial que temos se realiza à medida que o descobrimos. Esse potencial é inesgotável e fazemos pouco uso dele.
Não tenho tido paciência para nada que não me conduza a um aprendizado real. Estou ficando menos preconceituoso. Hoje, escuto o que falam, mas se percebo que em nada irá me acrescentar, valido a opinião do outro (mesmo não concordando com ela) e vou saindo. Tenho muito que aprender e estou atrás dos melhores professores.

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