Mais uma boa lição de casa!

Acabei de ser expulso do meu computador por minha filha. Delirando com a descoberta de jogos infantís no site do Discovery Kids. Ela acabou de me dizer que o seu computador estava muito "paradinho" e por causa disso usaria o meu que é "rapidinho".
Resultado, estou aqui digitando nesse computador bem cansado e mal sei o que escrever. Aliás, nunca sei o que escrevo até começar a escrever.
Já voltei ao trabalho e tive um dia pesado ontem. Avaliava currículos e documentos para entrevistar novos professores. Passei todo dia fazendo isso e quando finalmente terminamos, queria apenas cair nos braços da poltrona do ônibus para Petrópolis e apagar. E foi isso que fiz, e acabei sendo acordado pelo faxineiro, pois mal percebi que havia chegado em Petrópolis.
Decidi ir a pé para casa, aproveitando que a chuva havia dado uma rara trégua. Já passava das 20:00 horas e a noite já se aproximava. Decidi fazer o percurso até em casa em 10 minutos. Pisei forte e saí cantanto sola com o meu tênis de corrida.
No meio do trajeto levo um susto! Fui abordado em um trecho mais escuro e deserto de meu trajeto por uma alma. Era um mendigo totalmente nu e embrulhado em um cortina de box. Estava molhado, gelado e faminto, foi o que me disse antes de cair no choro.
Fiquei mais assustado ainda, pois não sabia se ele estava em seu juízo perfeito. Poderia estar blefando para conseguir uns trocados para tomar uns "tragos", pensei friamente eu. Estranho é constatar como a minha primeira reação foi negativa e cruel. Sabe aquela postura preconceituosa de julgar as pessoas pela aparência?
Mas ele tinha o direito de falar e fazer o que bem entendesse, afinal de contas a vida não estava sendo fácil para ele e até seria normal, se quisesse, se passar por um pirado.
Depois que se acalmou, perguntei o que ele queria. Ele tinha idade para ser meu filho!
Ele me falou que precisava ter uma nova vida, pois a que tinha recebido estava difícil por demais. Fiquei mais assustado ainda, diante do que acabava de ouvir. Eu não poderia dar a ele o que queria. Ofereci-lhe um lanche em uma padaria próxima, mas ele disse que não tinha mais como mastigar ou beber nada, pois os dentes que sobraram estavam doendo há dias.
O que eu poderia fazer, perguntei a ele. Ele respondeu: me deixe caminhar com o "senhor" até o final desta rua. Converse comigo com se fossemos amigos. Faça de contas que estou aqui, ao seu lado. Caramba! Ele não era invisível! Fiquei arrasado, mas fiz o que ele me pediu.
Conversei sobre o tempo chuvoso, o barulho do trânsito, as poças de água nas calçadas, das marquises pequenas...precisava buscar um assunto em comum. E ele permaneceu em silêncio ao longo do curto trajeto. Eu falava olhando para ele, não tinha como tirar os olhos dele. Parecia que éramos amigos, apesar dos olhares das pessoas que cruzamos na calçada.
O trajeto terminou na esquina. Eu parei e disse que precisava chegar rápido em casa. Ele me olhou e disse que já estava bom para ele. Há tempos não converso com alguém, me disse.
Agradeceu e foi embora na direção oposta.
Até em casa fiquei pensando nesse encontro inusitado. Ele é(era) tão humano quanto eu. Me senti mal e com uma sensação desagradável de amargura. Decidi não relatar o que vivi para ninguém, precisava antes compreender a lição que recebi, mas voltei a trás.
Aqui estou, reclamando das limitações desse computador quando o meu amigo (nada convencional) queria apenas ter a certeza que continuava vivo para o mundo.

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