Fim de Páscoa, fim de domingo, fim de feriado prolongado e mais algo que não sei definir.

Com são melancólicos os finais. Finais de semana são trágicos para mim, principalmente quando era mais jovem e ouvia no domingo à noite, aquele jogo de futebol no rádio da cozinha onde o narrador esportivo dizia: o relóooooogio maaaarca... que agonia me dava! Pior era ouvir a música de encerramento do Fantástico, lá por volta das 22:00 horas, e estar certo que tudo recomeçaria no dia seguinte, bem cedo!
Acordar era um sofrimento. A cama estava deliciosa e o travesseiro se transformava em um verdadeiro ninho para sonhar! Mas tinha que levantar, pois caso contrário seria acordado de qualquer jeito, fosse pelo rádio relógio ou por alguém. Por vezes sonhava que iria acordar em um novo sábado, desprezando uma semana inteira. Por muitas vezes acordei aos domingos acreditando ser uma dramática segunda-feira. E isso era o máximo! Voltar a dormir rápido para que o sono não fosse embora, um ritual mágico. E acordar depois de algumas horas, um delírio. Afinal eu estava vivendo o início de um fim de semana.
Hoje sinto saudades dessa agonia. Parece que foi ontem, mas já faz muito tempo. Logo que acordava na 2a. feira, a raiva e a preguiça desapareciam. A vontade de recomeçar tornava-se maior à medida que despertava.
Hoje não trabalho nas 2as. feiras de manhã. Durmo acompanhado da esposa e acordo com o celular tocando suave, ou com minha filha me chamando. E recomeço como no passado. Hoje não assisto mais o Fantástico e creio que o narrador esportivo morreu ou se aposentou. Mesmo assim, guardo boas recordações desta época. Ainda sinto o delicioso cheiro do feijão cozido "pulando" na panela da minha mãe no fim de domingo, depois de tê-la ajudado a escolher grão por grão.
Tenho uma excelente memória olfativa: cheiros me trazem lembranças e se fechar os olhos consigo visualizá-las muito bem. Reconheço as pessoas envolvidas e sentimentos que podem conter uma lembrança. Sempre fui atento aos detalhes, mas o todo nunca me escapou. Vivia e vivo intensamente. Não saberia fazer de outra forma. Me reconheço imensamente e procuro viver discreta e humildemente o meu dia-a-dia, seja no início ou fim de uma semana.

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