Ensaio sobre a Avareza (1)

Decidi escrever sobre a avareza, ou seja, o oposto de generosidade.
Lembro-me de um conto do Otto Lara Rezende. Era a história de um homem que por ter sido tão avarento ao estar diante da morte, preferiu não dividi-la com ninguém. Ao ter um colapso, sentia-se incapaz de pedir ajuda, com receio que lhe pedissem uma retribuição ao favor. De tão miserável, não murmurou o menor som e terminou morrendo só.
Como a avareza pode extrair a essência de um ser humano, privá-lo de todo o prazer que a vida pode ofertar, por medo e culpa. A insegurança produz seres avaros emocionalmente. Não me refiro apenas as pessoas conhecidas como "mãos de vaca", que trabalham a vida toda na esperança de se tornarem ricas e poderosas, ou para deixar a seus filhos.
Falo, ou melhor, escrevo sobre aquelas pessoas incapazes de dividir seus sentimentos, de dar sem antes pedir o troco, ou de se sensibilizarem com a dor alheia. Poderia colocar muitos exemplos por aqui, mas serei avarento, para que cada um busque na memória, um conhecido, um parente, avarento.
Avareza combina com ignorância e cegueira diante da vida, seja qual for a idade, status financeiro, formação cultural ou religião. Sabe aquelas pessoas poderosas e que choram miséria sempre? São avarentas, pois continuam agindo como miseráveis e tentam manipular aqueles ao redor. Todo avarento foi pobre um dia. É raro encontrar um pobre que não seja generoso, mas é muito comum encontrar-mos abastardos avarentos.
Conheço muitos avarentos bonzinhos. Aqueles que como já disse, deixam tudo para os filhos e vivem uma vida de sacrifícios por imposição. Destruíram ou boicotaram seus sonhos pessoais em nome de um projeto materialista. Creio que perderam de vista os momentos felizes, de quando eram pobres e sabiam dividir, pois contavam com a generosidade alheia. Apresentam uma fisionomia angustiada e soberba. Cabem aos filhos queimar tudo que receberem!
Existem aqueles avarentos materiais, que se dizem econômicos e racionais, mas sempre que podem, exploram a pessoa mais próxima e carregam no drama ao expor suas dores. São tristes e com fisionomia abatida. Riem pouco e são pouco sociáveis. Vivem bem próximo do limite do conforto material como se estivessem expurgando a vaidade. Comprar é sinônimo de culpa e dor. Na verdade, a ostentação abre espaço para mãos estendidas e pratos vazios.
Conheço também avarentos de afeto. São incapazes de demonstrar seus sentimentos, por se sentirem invadidos ou expostos por demais. Esses sofrem calados essa angústia, pois a insegurança emocional os domina. Qualquer aproximação do outro é entendida como uma estratégia para tirar vantagens ou obter algo. Esses avarentos sabem machucar de verdade com seu egoísmo.
Poderia citar outros casos, mas estou fazendo apenas um ensaio despretensioso sobre um pecado capital.
Avarentos são aquele incapazes de perceber que tudo que construíram jamais lhes pertencerá de fato, pois deixarão tudo por aqui. A suposta segurança não existe e a felicidade verdadeira não é obtida assim. E o que é pior, deixar para aproveitar a vida na velhice é a pior das avarezas.
Podemos citar os avarentos de humildade, uma categoria em ascensão na atualidade. São prepotentes, manipuladores e autoritários. Precisam se expor o tempo todo e se afirmam ao mostrar o que são e podem ter. Vejo tais pessoas vivendo fora do contexto do mundo atual. Hoje a humanidade caminha atrás de respostas que não serão encontradas na ciência ou no conhecimento avançado, mas na percepção da fé e na espiritualidade.
Muitas vezes pensei que só os idosos fossem avarentos, pois viveram em um outro mundo, de valores diferentes dos que temos hoje. Mas ao contrário, vejo jovens com a mesma postura, avarenta e egoísta. Onde irão chegar? Irão de encontro ao que lhes reserva, devagar ou rapidamente.
Eu acredito que a vida conspira a nosso favor. Que o poderoso Deus que nos criou jamais falha. Mas vejo que os homens ainda tem uma longa caminhada pela frente.
Sinto-me confortável ao escrever sobre avareza. Não sou avarento, apesar de reconhecer que já experimentei esse pecado e não gostei.
A cada dia sinto-me menos avarento e mais poderoso, ao compartilhar tudo o que construi nesses 46 anos. Espero ser um bom exemplo de homem, pai e professor que possa ser passado a diante. Não quero ser lembrado pelo que deixei para ninguém, mas por tudo que semeei e partilhei como ser humano.

Comentários

Paulo Victor disse…
Todo geógrafo tem um "quê" de poeta? Faber também tem blog...


PAX TECUM!

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